terça-feira, 8 de setembro de 2009

Portela!


Desde sexta-feira passada as previsões de clima de todos os canais enumeravam os milímetros, as pancadas e as conseqüentes chuvas que atingiriam o litoral carioca e paulistano. Ainda assim ousei ir ao Rio de Janeiro para curtir o feriado, e posso dizer: foi a melhor coisa que fiz. Praia? Cristo? Que nada, quem me deixou feliz assim foi Madureira, foi Portela.

Logo no sábado pela manhã, já na Cidade Maravilhosa, começamos a peripécia: caminhamos até o metrô Cardeal Arcoverde no bairro de Copacabana e de lá rumamos até à Estação Central no Centro do RJ, local de integração com as linhas de trem do restante da cidade.

Com o bilhete “integrado” na mão tomamos o trem, via Ramal Japeri, para Madureira, bairro conhecido pela sua forte ligação com o samba e por abrigar o ponto final da peregrinação: a Quadra da Portela.

Já passava das duas da tarde quando da estação de Madureira seguimos caminhando até a quadra, onde no primeiro sábado de cada mês a atração principal é nada mais, nada menos que a Velha Guarda Portela e convidados.

Da entrada já se via a águia altaneira da Portela e uma figura póstuma do mestre Paulo da Portela, um dos principais compositores da escola. Nas imediações camisetas penduradas e diversos bares com referências a sambas. Na quadra já não eram mais encontradas mesas vagas, mas por todo canto as pessoas se encostavam, se apoiavam e provavam a famosa feijoada, regadas com fartas porções de salgadinhos e baldes de cerveja Antarctica – que é azul e branca como o manto portelense.

Como um legítimo turista fiquei um pouco assustado ao ver alguns capangas armados com metralhadoras e pistolas . Pareciam fazer a própria segurança, ou da Diretoria da Escola de Samba, porém nada que afligisse minha própria segurança e conseguisse tirar o charme da antiga quadra.

Ainda mais por que pelos arredores do Portelão o Mestre Monarco, distribuía sua atenção, carisma e abraços ao caminhar, mostrando muita simplicidade e um grande comprometimento com o público ali presente. E me atrevo a dizer que esta mesma simpatia era irradiada pelos os outros velhos portelenses sem a prepotência que atinge alguns ídolos mais jovens e sem a mesma importância.

Já era cinco horas, algumas porções e cervejas já haviam sido degustadas quando escutamos ao longe a quadra começar a fervilhar com a canção “Coração em Desalinho” e quem cantava era ele: Monarco.

Corremos para não perder nada e ao entrarmos na quadra deparamos com a Velha Guarda da Portela inteira postada sob o palco. Dali em diante foram algumas horas, que já compensariam todo o feriado, de uma grande entrega ao samba e de nossa contemplação a uma escola repleta de sucessos e standarts do samba.

Impressionante era ver a entrega do público presente aos sambas portelenses. Até mesmo pela dificuldade em ir até à quadra só estavam presentes pessoas da comunidades ou pessoas realmente ligadas ao samba.

E mais impressionante ainda é a contribuição que espaços como estes trazem ao samba. Como esta quadra na rua Clara Nunes, abriga ainda hoje nomes como Monarco, Tia Surica e ainda atrai outros adeptos como Paulinho da Viola, Serginho Meriti, Vanderlei Monteiro, Murilão da Boca do Mato – que estava lá – entre outros. E como ela ainda abrigará outros novos sambistas que farão de Madureira cada vez mais um lugar para se louvar e cantar e que tornarão ainda maior uma das mais grandes escolas do Rio de Janeiro.

As pastoras e os pastores
Vêm chegando da cidade, da favela
Para defender as tuas cores
como fiéis na santa missa da capela

Salve o samba, salve a santa, salve ela
salve o manto azul e branco da Portela
Desfilando triunfante sobre o altar do carnaval


Ps: foto e vídeos feitos in loco. O vídeo não ficou com o som muito bom.

2 comentários:

Flávia disse...

Portela, eu às vezes meditando, quase acabo até chorando, que nem posso me lembrar. Teus livros têm tantas páginas belas, se for falar da Portela, hoje não vou terminar...

Rodrigo Godoy disse...

Parabéns pelo texto. De fato, a Velha Guarda da Portela é um capítulo a parte e vivo da história do samba!
Tive o prazer de contratá-los para o meu aniversario este ano no Rio.
Morando em SP, agora meu objetivo é traze-los para uma apresentação em SP este ano. Tenho conversado com o empresário deles e com a própria Tia Surica para fecharmos esse projeto.
Saudações