terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
O samba na realidade
Existe uma eterna discussão sobre as reais origens do samba. Os partidários do samba africano, fruto dos atabaques, da religião e dos ritmos ancestrais. Há quem diga que ele nasceu na Bahia e depois espalhou pelo Brasil. Há também a possibilidade de ter acontecido após o fim da escravatura, quando a mão de obra dos escravos foi substituída nos engenhos e a população se concentrou nas grandes cidades como o RJ, de onde se tem notícia do primeiro samba “Pelo Telefone”.
Primeiro samba? Quem acredita que uma música simplesmente surja como uma vanguarda única sem ter base em nada? Quando algo deixa de ser um ritmo e passa a ser outro? Questões quase indecifráveis para tentar descobrir o ritmo que se tornou o símbolo e principal fonte cultural de um país que tem sua história ligada à música.
Independente desta discussão, fato é que o samba se espalhou pelo nosso país. Existem grupos de samba por toda parte, acredito que outros gêneros musicais também possam ser encontrados, mas sinceramente não me tocam, e não acredito que necessariamente tenham a mesma originalidade e identidade.
Ontem fui ao Samba da Vela em Santo Amaro. O samba ali é religião, é coisa séria. Nas canções, além do louvor ao próprio ritmo, estão noções de liberdade, a irreverência do ritmo, canções para exprimir o amor, mas principalmente identidade. Identidade que gera orgulho, auto estima e transformam a vida das pessoas envolvidas.
Neste mesmo dia em Santo Amaro, também se apresentou o “Pagode da 27”, grupo fundado no Grajaú, uma região carente e pobre de São Paulo. O grupo tinha a mesma identidade que o samba carrega, mas com características próprias da comunidade. Entre as canções, apresentavam-se compositores, poetas urbanos que encontram no ritmo a forma de expressar seus sentimentos. E dentro das pessoas que apresentavam o samba, sentia-se o orgulho por sua região, por sua cultura e pelo reconhecimento dos moradores vizinhos a estes compositores.
Talvez o grande barato do samba esteja aí. Sempre me perguntam se conheço muito de samba, e a resposta é sempre a mesma: não. Sim, conheço muito de Cartola, muito de João Nogueira, muito de Candeia e outros sambistas. Mas quando se analisa estes artistas, percebe-se por trás destes standarts uma comunidade, uma rede de trocas musicais infindas. Não sei explicar o porquê, mas com certeza existem artistas tão bons quanto os reconhecidos que a gente talvez nem imagine. O que transforma um artista em um grande ídolo e outro em um eterno anônimo é difícil de explicar.
Uma história diferente foi quando um instalador da Net esteve em casa e começou a cantarolar a canção “Um dia” que fez muito sucesso na voz de Sombrinha e Arlindo. Comecei a cantarolar com o instalador que ao mesmo tempo se emocionou e disse ser ele o compositor, Reinaldo, um dos compositores da canção. Diante de mim estava mais um anônimo que me emocionou diversas vez e que eu talvez nunca conheceria.
Diante de tanta história, de tanto samba, só me resta concordar com o sambista Noel Rosa, homem bem nascido e formado, que não era de comunidade nenhuma, mas que como ninguém, soube explicar onde nasce o samba.
“O samba na realidade
Não vem do morro, nem da cidade
E quem suportar uma paixão,
Sentirá que o samba então, nasce no coração.”
Confira um pouco do que rolou na volta do Samba da Vela na Casa de Cultura Santo Amaro:
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4 comentários:
Os textos autorais do Samba Cidade são raros, mas quando são publicados, são acompanhados de qualidade enquanto crônica. A poesia o autor deixa para os compositores, a cronologia e as reflexões são por conta do autor.
O objetivo do blog é realmente "dar acesso" ao mundo do samba, este sempre pronto para abrir a roda para acolher mais um.
Ao amigo Renato, um grande abraço.
Augusto.
Grande Augusto. Obrigado pela atenção às palavras.
Do seu amigo. Renato
Nossa, fiquei emocionada com a história Renato!!
Lindo texto, adorei!!
Bom, marmota!
Eu lembro da história do cara da Net! haha... Cada uma!
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