Boa noite!
Fui convidado recentemente para escrever em um site muito interessante que gostaria de dividir com todos o link: Guia de Concursos Literários. Desculpe pela pretensão deste blogueiro, mas espero que gostem do texto que escrevi e que mensalmente será atualizado.
Agradeço ao amigo Alemão (Ricardo Flaitt) idealizador do site e que me fez o convite.
Segue o texto:
A gênese do samba
"Quero fechar a ferida
Quero estancar o sangue“
Já passava das três horas da manhã. A noite se prolongava enquanto a tela do computador aceso tocava o som de um samba de Paulinho da Viola. A noite anterior havia sido perdida, o show do Elton Medeiros, o som do carro, a porta batendo e a moça saindo para nunca mais voltar.
O samba tem destas coisas. É o canto de alegria, é batucada, é cerveja, é roda, mas é principalmente a dor primária do ser, o sentimento bárbaro, a tristeza. Não me venham dizer o chavão “dor de corno”, a dor pode até ter a ver com isto ou não, mas ela é um sentimento próprio, ela é a tristeza por si mesma.
O português, maior colonizador brasileiro, sabe bem disto e canta a dor como uma passagem. Assim como os mulçumanos que por muito tempo dominaram Portugal e que entregaram aos nossos ancestrais as sábias poesias e a linda forma de expressar a vida em relação à natureza. A dor é a parte de um ciclo, de um ressurgimento. Tristeza não tem fim, felicidade sim.
O samba é triste por natureza. O samba é triste e se encontra na solidão. Paulo Cesar Pinheiro, Vinícius de Moraes, Cartola, Arlindo Cruz, grandes tristonhos como todos nós que habitamos a Terra. Eu tenho tristezas, você tem tristeza, ela tem tristezas e por isto esta identificação tão grande com a forma de cantá-la e extravasá-la.
É como se minha alma ficasse retida, meu corpo vazio, e as notas de samba a me tomar a vida. O cordel que se repete, a forma alegre de cantar as agruras da vida, o copo vazio do bar e por fim a noite escura a se anunciar.
Vejam só quando o samba rompe em um grande refrão, observem, os braços das pessoas se erguem como um culto! Mesmo que estejam felizes, mesmo que estejam na normalidade, se estiverem entregue ao som que sai das cordas do cavaquinho, sentirão como eu a epifania da dor, um transe coletivo que sai dos coros dos “laralaíás”. A doce inebriante sensação de se entregar e se purificar com a troca de sensações com a música. Difícil descobrir quem se entrega a quem.
Alucinação? Ufanismo? Pode ser que sim, a questão é que este ritmo é ancestral, um ciclo que não pára e não se rompe. Novos sambistas cantam velhos sambistas. Novos sambistas reinventam velhos sambistas, os verdadeiros sambas são todos irmãos e filhos da dor. E sabem por quê? Porque todos sentem a mesma dor, a dor ancestral do português, do negro, do muçulmano e que se traduz neste ritmo criado por esta miscigenação.
E se ainda assim, alguém atirar alguma pedra contra o que sinto em relação ao samba. Deixe estar, deixe falar. Parafraseio Paulo Cesar Pinheiro: "Nada que existe é mais forte/ E eu quero aprender-lhe a medida / De como compor minha vida / Que é para eu compor minha morte."
7 comentários:
excelente
;)
beijos
obrigado Tá! de uma professora e sambista de primeira linha não tem como nao ficar contente.
Lindo o texto todo Re.
Parabéns pelo seu dom: escrever!
bjos
Déa, obrigado. Sabes que foi uma das responsáveis pelo blog.
beijo
belo texto, bela surpresa!
Grande Abraço!
Envolvente expressão de sentimento, pitadas didáticas instigantes, parcelas salpicadas de um coração que sabe viver...e quer viver. Samba.
Parabéns! Quero ver mais reproduções espirituais de uma alma em ebulição! Abraços!
Obrigado Poliana, suas palavras me incentivam a continuar tentando.
Beijos
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