domingo, 13 de dezembro de 2009

Prestação de contas: Elza Soares


Boa tarde,

Saí de casa por volta das 20h para ir ao show da Elza. O evento ocorreria no Teatro Fecap, na região central da cidade, bem próximo à Estação Liberdade do Metrô. Fui buscar minha companhia e pelo caminho encontrei uma das maiores dificuldades do paulistano no momento, o trânsito agravado por uma árvore gigante e feia próximo ao Ibirapuera, e ao mesmo tempo o trânsito formado pelas pessoas que vão à Paulista ver as luzes de natal. Nada contra o natal, mas convenhamos que estas coisas poderiam ser melhor organizadas tanto pelo governo, quanto por nós.

A expectativa pelo show era muito grande, Elza é destas artistas que os fãs de música costumam comentar que é a conhecida “boa de palco”, algo parecido com “boa de cama”, porém para as questões musicais e artísticas. Outros nomes se encaixam neste perfil, e tem seus ingressos esgotados quando surge um show: Maria Bethânia, Luiz Melodia, Ney Matogrosso, entre outros.

Mesmo com a chuva forte que assolava a cidade e o trânsito caótico e desproporcional para um sábado à noite, conseguimos chegar ao show a tempo de pegarmos nossos lugares e aguardar a presença da cantora.

As luzes se apagaram de lá surgiram o excelente violonista e compositor João de Aquino, junto ao seu prodigioso filho também violonista, e de um percussionista interessante por sua árvore genealógica, uma vez que o “moleque” era neto de Donga, conhecido precursor do samba.

Iniciaram o show apenas os três músicos, num instrumental de um clássico de Dorival Caymmi. A cantora só viria na próxima música, ajudada por sua equipe, pois tinha o tornozelo torcido e não conseguia nem se manter em pé. No centro do palco uma poltrona fora posicionada para que a cantora se sentasse e fizesse o show.

Elza estava com seu costumeiro visual arrojado: um vestido longo vermelho, sobrancelhas postiças, a boca avermelhada, e acima um pinta negra. Lembrava as antigas divas dos anos 50 com o coque propositalmente bagunçado sobre a cabeça.

A cantora se sentou de forma provocativa sob a poltrona reclamando de não poder ficar de pé e fazer o show como gostava, uma vez que se autointitula hiperativa. Quem pensava que o show seria diminuído por esta limitação logo foi se dissipando da idéia com a primeira canção da cantora.

A voz desta mulher que se eterniza na música nacional é única, uma força que derruba as expectativas de qualquer ouvinte, tamanha a naturalidade e a técnica apresentada. Transformando músicas conhecidas do cancioneiro popular brasileiro, em novas obras primas, devido à interpretação e emoção incluídas nas músicas.

O repertório eclético vai de Johnny Alf à composições de Lulu Santos, do clássico Dorival Caymmi ao sambista Jorge Aragão, sempre com através de uma forma própria de interpretação, carregado de suingue, negritude, numa mistura de blues, samba, jazz e das raÍzes desta cantora provinda de Padre Miguel.

Durante a apresentação o músico João de Aquino e Elza mostram intimidade e um humor divertidíssimo das histórias da música popular brasileira. A platéia acompanhava o tom intimista do show como cúmplice desta amizade.

O show se desenrolou com canções rasgantes na voz e na força desta mulher com uma história de vida única tamanha sua força e capacidade de enxergar a importância da mulher bem à frente do seu tempo.

O show foi impressionante, e por um baixo valor acabei assistindo um dos melhores shows do ano – em minha opinião. Interessante é se perguntar por que uma artista como esta fica fora da mídia, muito mais preocupada com seus namoros com garotões e nas suas últimas plásticas do que com a incrível performance que ela consegue imprimir nos palcos.

Elza e suas manifestações são o retrato de um Brasil ainda imaturo, que ao mesmo tempo apresenta talento, criatividade, técnica, mas que muitas vezes se deixa sucumbir pela falta de foco , pelo pré julgamento e pelo pensamento antiquado em alguns aspectos sociais.

Obrigado Elza por sua ousadia, sua originalidade e sua paixão em fazer-nos apaixonar por você.

3 comentários:

Edgar Costa disse...

Eu já fui a alguns shows da Elza Soares e sempre saí maravilhado. Ela é um patrimônio brasileiro! Mas infelizmente é pouco valorizada. Gostaria de ter assistido a essa apresentação, mas por questões mil não pude. Aguardemos o CD/DVD. Abraço

Samba Cidade disse...

Boa noite Edgar,

Foi justamente que quis escrever. E pedir a todos que pelo menos experimentem ver e ouvir Elza. Ela não pode ser pouco valorizado.

Obrigado pelo acesso, e quando quiser dar sugestões e criticar. Manda aí.

Abraços

Blenda Rayssa disse...

Parabens...
infelizmente eh isso...temos um rico patrimonio cultural mas pouco(bem pouco)valorizado...eu mesma nunca assisti um show da Elza Soares.
Por isso q eh importante blogs como esse...
ateh a prox!!!