domingo, 21 de dezembro de 2008

Acreditar



Dona Ivone Lara, cantora, compositora, precursora das mulheres sambistas. Nasceu em 1922 e em 1965 já fazia parte um grande sucesso, no clássico do Império Serrano, "Os cincos bailes da corte".Samba enredo que até hoje é lembrados em rodas em parceria com ninguém menos que Silas de Oliveira.

Enfermeira por profissão se enveredava pelo samba e amealhou sucessos como "Acreditar", "Sorriso Negro", "Sonho Meu" - grande sucesso na voz de Gal Costa e Maria Bethânia.

A partir da parceria com Délcio Carvalho a carreira da cantora e compositora deslanchou e a tornou uma sambista de ofício. Outra parceria muito acertada é a com Jorge Aragão de onde surgiram clássicos como "Tendência" - tocada em todas as rodas - e "Enredo do meu samba"

Dona de uma voz marcante, Ivone é dona dos palcos que ocupa espalhando pelo ambiente seus "laraiás" e balanço.

Vídeo de um de seus maiores sucessos em companhia da excelente música e cantora Nilze Carvalho.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Candongueiro



Bem amigos,

O fim de ano em São Paulo vai desaquecendo o samba na grande cidade, mas o samba não pode parar. Hoje a dica será de uma roda de samba - se é que se pode dizer isto - que acontece no RJ, mais precisamente em Maricá, próximo a Niterói. Posso dizer por experiência própria, uma das melhores rodas de samba que já fui.

O lugar fica longe, na Estrada Velha para Maricá, mas a recompensa é garantida. O lugar possui aquela velha mística das rodas de samba de subúrbio carioca, diversas mesas dão lugar aos amantes do samba e de uma boa farra.

Ao pedir uma cerveja não se espante que o garçon volte com um isopor repleto de gelo e cervejas estupidamente geladas e coloque embaixo de sua mesa. Não se espante ao perceber a massa cantando as músicas como preces. Não se espante com o romper do dia o e samba ainda rolando.

A roda acontece há cada 14 dias, sempre aos sábados e sempre traz um grande convidado. Dizem que dos sambistas, apenas Paulinho e Zeca nunca se apresentaram no local. A última roda de samba deste ano será, por exemplo, com a Velha Guarda da Portela. `

Onde: Estrada Velha de Maricá, 1554 (Pendotiba) (021) 2616-1239 Niterói RJ

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Coisas do mundo, minha nêga


Sem muito para falar senhores,

Fim de ano, e nada melhor do que uma bela e reflexiva composição de Paulinho da Viola. Para quem não sabe esta composição foi feita quando o majestoso Paulinho tinha apenas 26 anos. É uma das composições favoritas do compositor e, diz a lenda, era uma história muito mais extenso e que foi lapidado para se tornar esta obra prima.

A composição reserva histórias inusitadas em uma melodia que desconstrói o samba tradicional e mostra toda a genialidade de Paulinho.

Deleitem-se:


domingo, 7 de dezembro de 2008

Renascença - Samba do Trabalhador



Senhores e senhoras,

Aqui vai mais uma indicação de CD para todos os amantes do samba raiz e das novas composições do samba.

Para alguns, samba raiz são feitos por sambistas já consagrados e reconhecidos. Diversas pessoas esquecem que estes mesmos sambistas consagrados, como o Cartola, em certa fase da sua vida não era reconhecido e sua música passava em branco aos pseudos intelectuais.

Não reconhecer os novos sambista é tentar quebrar o ciclo do samba, pois estes compositores de agora serão os Cartolas, Candeias, Robertos Ribeiros de amanhã.

A roda que inspirou o CD indicado acontece toda segunda-feira a tarde, comandada por Moacyr Luzuma nesta que é uma das melhores rodas da cidade do RJ, o Samba do Trabalhador.

CD conta com composições do falecido Luiz Carlos da Vila, do sempre presente Wanderley Monteiro, Serginho Meriti , Bira da Vila, entre outros pilares das novas geracões (nem tão novas assim)do samba.

Destaque para a faixa "O Daqui, o dali e o de Lá", "Retrato cantado de um amor", "Cabô meu pai"(foi gravado pelo Zeca) e para o cantor Marquinho Santanna, um cantor com um timbre fantástico.

Segue Moacyr Luz cantando o seu clássico "Prá que pedir perdão" na roda em questão.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Embarcação

Embarcação
Composição: Francis Hime/Chico Buarque

Sim, foi que nem um temporal
Foi um vaso de cristal
Que partiu dentro de mim
Ou quem sabe os ventos
Pondo fogo numa embarcação
Os quatro elementos
Num momento de paixão

Deus, eu pensei que fosse Deus
E que os mares fossem meus
Como pensam os ingleses
Mel, eu pensei que fosse mel
E bebi da vida
Como bebe um marinheiro de partida, mel
Meu, eu julguei que fosse meu
O calor do corpo teu
Que incendeia meu corpo há meses
Ar, como eu precisava amar
E antes mesmo do galo cantar
Eu te neguei três vezes
Cais, ficou tão pequeno o cais
Te perdi de vista para nunca mais

Mais, mais que a vida em minha mão
Mais que jura de cristão
Mais que a pedra desse cais
Eu te dei certeza
Da certeza do meu coração
Mas a natureza vira a mesa da razão


Música de Chico Buarque e Francis Hime, uma letra não tão conhecida como deveria, na interpretação genial de Fabiana Cozza.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ensaio Rosas de Ouro


Para quem já quer aquecer os tamborins e agito o negócio neste dezembro são os ensaios de Escolas de Samba. Mesmo porque, como já falado, no fim de ano os pé vão saindo do acelerador, e a folia parte para os barracões.

De quarta e sexta-feira a boa são os ensaios das Rosas de Ouro, próximo a ponte da Freguesia do Ó, o local enche e o negócio é chegar cedo para garantir o lugar.

Quando : quartas e sextas-feiras
Horário: 20h30

Segue link: http://www.sociedaderosasdeouro.com.br/

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Prestação de contas - Cartola

Na quinta-feira passada estive no Sesc Pompéia para ver o show do Elton Medeiros e Márcia, em homenagem aos 100 anos de Cartola.

O Velho Elton, se mostra muito frágil, mas a força de seu samba arrepia, e saber que ele é um dos elos que não deixa esta corrente morrer o torna ainda mais gratificante. Homem que compôs com Cartola e hoje em dia compõe com Paulinho da Viola precisa de títulos?

Márcia é a mesma cantora do famoso show dos anos 70 "O importante é que nossa emoção sobreviva". Quem não conhece vale a pena conferir o show que celebrou a dupla Gudin e PC Pinheiro, além de ser um marco de resistência contra o regime da época.

Segue apenas uma canção gravada no celular, um clássico de Carola cantado por Elton Medeiros.

Mais do que uma arte



Falo do samba. Que outra forma de expressão é mais completa? O samba dialoga com a divindade, abraça o solo, envolve-se com águas, é verde antes da moda, vermelho antes da decepção, azul porque anteblue, amarelo porque dissidente, branco porque reunião, e negro porque um negro é um negro, é um negro, é um negro, negronoite, e a noite é a mãe de todos nós.

O capital não tem pátria. O samba tem: a alma, onde quer que ela esteja. Há os que se julgam remadores em direção ao futuro. Não sabem que o samba lhes esculpiu o barco. O fazer samba implica sempre ato de magia: é voltar. E como a essa esplêndida viagem se opõem o tempo e a ciência, o samba, encrenqueiro, volta para o futuro, numa reconquista do paraíso perdido, na qual temos que tomar conta de nossos ancestrais-bebês, sabendo que, em outro futuro próximo, as gerações vindouras chegarão para nos alimentar. Esse é o paradoxal ciclo aberto do samba. Porque o samba, mais que feitio de oração, nos ajuda a atravessar o vale da morte e das lágrimas, a lama da impunidade, o limbo das esperanças perdidas. O samba preside o nascimento e celebra o gurufim dos seres. Em linguagem cósmica, o samba estava na primeira explosão e estará no último gemido. Em todos os recantos onde nos expandimos ou onde nos confrangemos existe samba.

Heranças não pretende só recosturar tramas em direção as raízes, mas principalmente fazer com que as copas floridas se misturem e confraternizem, gerando a fecundação simultânea de idéias e ideais, cujas palavras alegre de desordem e de vento sejam: não confinar, não murar, não cercear. Que os vampiros enfiem as estacas vã-guardadeiras no solo crestado de suas próprias igrejinhas.

Muito se falou sobre liberdade de expressão, sobre a ação de patrulhas ideológicas e, no entanto, não apareceram os textos que deveriam denunciar os guetos-quilombos que se criaram devido ao isolamento, à sistemática descaracterização de nossa cultura, a violências de toda ordem, até que, exauridos, fomos entregues de bandeja a manifestações pretensamente modernas que visavam ao lucro selvagem, que fomentavam as falsas crises da nossa imbatível criatividade, religiosa, erótica, social, maior que uma arte. Alguns ingênuos foram cooptados, a preço de banana, por esse imediatismos de miçangas-pop, desmembrados no caos de uma oficina de desmonte que colhia talentos como se fossem peças de segunda mão. O que esses adoradores do presente ignoram é que samba cresce com a cachoeira e o monturo, o córrego e a vala, na cidade e no campo, na paz e na guerra.

Por quantas estradas e vielas passem as caravanas congratulatórias e o seus patrocinadores, o sambamaqui, como um cão, estará emboscado com criatividade de fato e de direito.

Fazer justiça ao camelo não significa limar o dromedário do circo. Macacas de auditório, sejam bem-vindas, mas não paguem mico!

Aldir Blanc – Livro Heranças do Samba (Aldir Blanc, Hugo Sukman e Luiz Fernando Vianna)